quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Cântico Cinzento

Nem a propósito; esta semana (8Nov2009) Isabel Leal escrevia no NM:

“Se a vida fosse a preto e branco era tudo mais fácil. …
Mas, como não é, temos de, enquanto indivíduos, aprender…gerir a incerteza, …aprender a ler nas entrelinhas…
Temos de descobrir quem somos, numa encruzilhada em que todos parecem ter opinião, saber quem são e para onde vão.
…desenvolver autonomias relativas. …
Ocupados como estamos nas nossas vidinhas atribuladas, temos pouco espaço mental para nos questionarmos sobre o que é essencial.
…o “não” é um organizador fundamental da personalidade humana e que é a partir da recusa que se dá o reconhecimento da diferença e o estabelecimento da individualidade, usamo-lo pouco, timidamente e por vezes mal.
Cada vez mais o clássico “sei que não vou por aí” parece ser a estrofe final de um lindo poema.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Fragmentos de um caminho-parte 2



Fragmentos de um caminho- parte 1

"Vem por aqui" -
dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali... ... Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"? ...
Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?
... Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"! ....
Não sei por onde vou, Não sei para onde vou ...
José Régio