sábado, 22 de agosto de 2009

"O pensador"

...
Eu não tenho nome
Eu não tenho identidade
Eu não tenho nem certeza se eu sou gente de verdade
...
Eu sou mendigo, um indigente, um indigesto, um vagabundo
Eu sou...
Eu não sou ninguém
...

Gabriel "O pensador"
http://www.lyricstime.com/gabriel-o-pensador-o-resto-do-mundo-lyrics.html

-podia até ser lírico, conotativo, existencial...
neste caso é uma dura existência, uma dura realidade, que muitos de nós -privilegiados- temos a sorte de não conhecer.
-tal não deveria implicar que nos petrificássemos e vivêssemos na nossa doce "política correcta".

-Por mim, estou farta de tentar ser "politicamente correcta"; nunca tive muito jeito (às vezes até acho piada; qual cena de cinema); estou farta dos "politicamente correctos". Estou cansada de futilidades e devaneios de meninos riquinhos ou aspirantes a tais;
Fala-se de crise de valores; Talvez todos nós estejamos a contribuir para tal. Talvez muitos de nós estejamos a desprezar a nossa liberdade ao não manifestarmos a nossa opinião, a nossa vontade, as nossas convicções menos levianas.

-Sou uma lorpa por natureza! uma pacifista. Tento a todo custo evitar conflitos...excepto...(sou naturalmente conflituosa...e isso quer dizer que para "evitar os conflitos a todo o custo", muitas vezes me aniquilo)...excepto...quando os provoco.

-Foi (pelo menos) a 3ª vez que insinuaram que eu estava a roubar, a planear roubar.
E a minha reacção?
De total indignação?!, de "armar um vendaval"?! de "rodar a baiana"?!
-Não. não foi. de uma das vezes calei-me, da 2ª chorei, na 3ª voltei a calar-me.

-Pois da minha "virtude", da minha honestidade, da minha integridade tenho eu total certeza (pelo menos enquanto tiver e ainda tenho).
-Se me batessem, deixaria eu que me batessem? daria a outra face? eu até sou cristã mas tenho a certeza de que retribuiria.
-Assim, como posso eu ter permitido que me lesassem de forma tão profunda e tivesse baixado os braços?
-"Quem não se sente não é filho de boa gente"; outra das minhas convicções profundas; tenho a certeza, é a de que os meus pais são boa gente!
-Assim sendo, que se foda a minha lorpice e se houver uma próxima, "partirei toda a louça". Não permitirei mais, quase indiferentemente, que me lesem no meu profundo ser.

-Há casos, em que a ausência de conflitos tem que ser ultrapassada porque há valores superiores que se levantam. Se perder amigos, se deixar de praticar o "politicamente correcto", talvez como consequência me ganhe mais a mim, talvez a humanidade ganhe mais dignidade e auto-respeito.
-Para mim a vida é curta. estou velha demais para me moldar a valores que todos dizem em crise.
-Decerto, a minha vida será como o final dos"maias", mas por mim Chega. porque "a liberdade tem mesmo um preço elevado"; muitas vezes não nos podemos dar ao luxo de o pagar; demasiadas vezes damo-nos ao luxo de não o pagar. um luxo que ainda se pagará mais. talvez mais tarde, mas com juros demasiado elevados.

-E agora expressões "politicamente correctas" que eu subscrevo!!
-ilustre desempregado;
-pobreza envergonhada;
-indigência iminente;

outras que demonstram a mais desavergonhada falta de honestidade
-inverdade, ...

-outras sobre as quais ainda não tenho uma opinião totalmente formada, mas que me parece que querem "doirar a pílula" (seja lá o que esta expressão quer dizer...se é que existe!!)
-invisual, ...

-o mais grave, para mim, no politicamente correcto não serão as expressões, ainda que essas sejam sintomáticas de uma "doença ruim", o mais grave é a atitude. uma atitude de assentimento, de não reflexão, de agradar porque sim, às vezes porque daí advirão benefícios.
-é "curioso e engraçado" quando publicamente se "julgam" os "exercicios de poder e de influência de poder", quando todos nós já assistimos ou até presenciamosimpavidamente no nosso círculo um pouco mais restrito de amigos esse exercício.

-Sou uma cínica?! Serei?! Sem falsas demagogias mostrem-me que sou.
-Ainda acredito, e penso que sempre acreditarei no ser humano, na pessoa. mais na pessoa individual do que no colectivo, embora gostasse de ver mais "colectivos de pessoas" a lutarem pelos seus valores. mais na pessoa que luta todos os dias do que no herói. embora utopicamente desejasse que todos ambicionássemos ser heróis ...e não o Cristiano Ronaldo.

-Estou desiludida? com a sociedade? comigo? com os meus amigos?

-"das cinzas renasce o homem"!

-e agora a letra completa, sem manipulações

Eu queria morar numa favelaEu queria morar numa favelaEu queria morar numa favelaO meu sonho é morar numa favelaEu me chamo de excluido como alguém me chamouMas pode me chamar do que quiser seu "dotô"Eu não tenho nomeEu não tenho identidadeEu não tenho nem certeza se eu sou gente de verdadeEu não tenho nadaMas gostaria de terAproveita seu "dotô" e dá um trocado pra eu comer...Eu gostaria de ter um pingo de orgulhoMas isso é impossivel pra quem come o entulhoMisturado com os ratos e com as baratasE com o papel higiênico usadoNas latas de lixoEu vivo como um bicho ou pior do que issoEu sou o restoO resto do mundoEu sou mendigo, um indigente, um indigesto, um vagabundoEu sou... Eu não sou ninguémEu tô com fomeTenho que me alimentarEu posso num ter nome mas o estômago tá láPor isso eu tenho que ser cara-de-pauOu eu peço dinheiro ou fico aqui passando malTenho que me rebaixar a esse ponto porque a necessidade é maiordo que a moralEu sou sujo eu sou feio eu sou anti-socialEu não posso aparecer na foto do cartão postalPorque pro rico e pro turista eu sou poluiçãoSei que sou um brasileiroMas eu não sou cidadãoEu não tenho dignidade ou um teto pra morarE o meu banheiro é a ruaSem papel pra me limparHonra?Não tenhoEu já nasci sem elaE o meu sonho é morar numa favelaEu queria morar numa favelaEu queria morar numa favelaEu queria morar numa favelaO meu sonho é morar numa favelaA minha vida é um pesadelo e eu não consigo acordarE eu não tenho perspectivas de sair do lugarA minha sina é suportar viver abaixo do chãoE ser um resto solitário esquecido na multidãoEu sou o resto do mundoEu sou mendigo, um indigente, um indigesto, um vagabundoEu sou o resto do mundoEu num sou ninguémEu num sou nadaEu num sou genteEu sou o resto do mundoum mendigo um indigente um indigesto um vagabundoEu sou o resto do mundoEu não sou ninguémFrustraçãoÉ o resumo do meu serEu sou filho da miséria e o meu castigo é viverEu vejo gente nascendo com a vida ganha e eu não tenho uma chanceDeus! Me diga por quê?Eu sei que a maioria do Brasil é pobreMas eu num chego a ser pobre eu sou podre!Um fracassadoMas não fui eu que fracasseiPorque eu num pude tentarEntão que culpa eu tereiQuando eu me revoltar, quebrar, queimar, matarNão tenho nada a perderMeu dia vai chegarSerá que vai chegar?Por enquantoEu sou o restoO resto do mundoEu sou mendigo, um indigente, um indigesto, um vagabundoEu sou o resto do mundoEu não sou ninguémEu não sou nadaEu não sou genteEu sou o resto do mundoum mendigo, um indigente, um indigesto, um vagabundoEu sou o restoEu não sou ninguémEu não sou batizadoEu não sou registradoEu não sou civilizadoEu não sou filho do SenhorEu não sou computadoEu não sou consultadoEu não sou vacinadoContribuinte eu não souEu não sou comemoradoEu não sou consideradoEu não sou empregadoEu não sou consumidorEu não sou amadoEu não sou respeitadoEu não sou perdoadoMas também sou pecadorEu não sou representado por ninguémEu não sou apresentado pra ninguémEu não sou convidado de ninguémE eu não posso ser visitado por ninguémAlém da minha triste sobrevivência eu tento entender a razão daminha existênciaPor quê que eu nasci?Por quê tô aqui?Um penetra nesse inferno sem lugar pra fugirVivo na solidão mas não tenho privacidadeE não conheço a sensação de ter um lar de verdadeEu sei que eu não tenho ninguém pra dividir o barraco comigoMas eu queria morar numa favela amigoEu queria morar numa favelaEu queria morar numa favelaEu queria morar numa favelaO meu sonho é morar numa favela.

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