sábado, 22 de agosto de 2009

os amigos de infância

confesso. pensei neste post não pelas melhores razões, mas depois reflecti um pouco e também encontrei pontos positivos...

Um amigo de infância é, deveria ser (?!), como o nome indica, de infância. isto é, foi um amigo na nossa infância.
há os amigos de infância que cresceram connosco porém esses não são os nossos amigos de infância, embora assim os possamos apelidar. esses são simplesmente os nossos amigos.

-O crescimento implica uma auto-descoberta, construção e reconstrução, mudança de paradigmas e consequentes dilemas. Há medida que a nossa maturidade aumenta, a nossa própria construção vai, idealmente, aproximar-nos connosco próprios.

-Da infância para a adultez, e ainda na adultez, há pessoas na nossa própria pessoa que se vão mutando, outras perdendo, morrendo, e ainda outras, que por força das circunstâncias ou não, se vão esquecendo.

-O crescimento é para muitos -é para mim- um processo nem sempre fluido ou pacífico. É um processo de conflitos.
-Durante o nosso crescimento lutamos muitas vezes por conseguir construir uma imagem que se assemelhe mais aquilo que gostaríamos de ver no espelho.
-Vencemos inseguranças, valores que julgámos vácuos, futéis, aculturamo-nos e construímos a nossa cultura.
-As inseguranças na infância podem ser açambarcadoras, demolidoras, sobretudo quando os outros parecem não se aperceber do peso que carregamos. Também o são na idade adulta...

-Assim, felizmente vencemos muitas das nossas inseguranças de meninice, que escrevendo parecem ser tão comezinhas mas que só nós sabemos o quão profundo nos afecta/ afectou.
-A menina gorda, a caixa de óculos, a magricela, a pobre, ...
"B continua linda como as fadas, mas ainda pesa toneladas"; original!
-Ultrapassámos alguns dos nossos mais temíveis fantasmas. Com o crescimento, às vezes, apercebemo-nos de que não eram assim tão temíveis ou que há outros bem mais assustadores, contudo os danos que aqueles causaram, se não se tiver forças para vencer podem ser incomensuráveis.

-Muitas vezes é o crescimento em direcções opostas que leva a que dois seres que outrora se amaram não mais se reconheçam e portanto, se fosse tudo racional! se afastem.

-Imaginem assim, o quão provável é que dois amigos de infância cresçam na mesma direcção.

-Alguns dos nossos amigos de infância, os que cresceram connosco, vão sempre fazer-nos falta. -ainda que possam fazer vir ao de cima os nosso fantasmas de infância mais temíveis que julgávamos mortos e que renascem com a mesma altivez!-; são eles que nos fazem sentir enraizados, que nos lembram das canções foleiras que gostávamos, das palermices que fazíamos e dizíamos, da nossa infantilidade, da nossa pequenez! das nossas inseguranças, de quem um dia fomos...embora...possam não se aperceber que essa pessoa já não existe. Existe outra pessoa. Outra pessoa que eventualmente até terá em comum muitas semelhanças com aquela que conheceram.
-mas esses, ainda assim, são os nossos bons amigos de infância.
por mais que tenhamos crescido em direcções opostas, a tal ponto de até já não haver o mesmo sinal de comunicação, por mais que já não os reconheçamos há sempre algo que nos mostra que aqueles são/ foram os nossos amigos. Há um carinho indizível. Uma sensação de que algo que nos fazia sentir seguros na nossa infância ainda existe. Pode não ser real...mas o que é o real?
-São aqueles, quase como a nossa família, quevamos querer sempre defender, acreditar que conhecemos o seu ser mais profundo, por mais que discordemos da sua maneira de agir.

-Depois há os outros. os outros amigos de infância. e foi até isso que motivou este post.
Para mim é aborrecido, um suplício, um dever que tenho que cumprir porque gosto de viver em sociedade (embora seja um ser bastante não-sociável).
Os amigos que nós conhecemos na nossa infância que que foram apenas isso, amigos de infância!!
Crescemos em direcções totalmente opostas e nenhum de nós acompanhou o crescimento do outro. Eu tendo a esquecer essas pessoas, embora reste sempre qualquer sentimento que não sei expressar. Porém há aqueles que teimam em nos colar à nossa imagem de infância, da criança que já existiu, mas que não existe mais e da qual até temos dificuldade lembrar. E falam connosco como se nos conhecessem!
-mas de onde é que eu vos conheço? que pretensão a meu amigo é essa? logo eu que são tão tão selecta nos amigos. Uma mão de amigos chega-me e já não é tarefa sempre fácil.
-Logo eu que valorizo tanto a palavra amizade como amor. que acho que as andam para aí a confundi-las com imitações baratas.
-e nós, eu, quase que revivo aquele papel outra vez. deixa-me avivar a memória para o desempenhar convincentemente. Logo eu, que não convenço ninguém.
-Logo eu que nem a mim própria me conheço, que me estou a tentar construir, a ser mais leal comigo própria.
-Vai-te embora. Fica com as tuas memórias de infância mas deixa-me recordar apenas as que recordo... e tu não estás lá.

e eu quero crescer. por mais doloroso que às vezes, tantas vezes, me seja.

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