sexta-feira, 31 de julho de 2009

Loucura?

""A única diferença entre mim e um louco é que eu não estou louco"" — Salvador Dalí

E no meu caso, ...qual é a diferença?

Dizem-me que há neuroses, psicoses, e mais umas quantes oses.
Loucura é termo que actualmente psiquiatras e psicólogos não usam.
-isso é bom e é mau!
-é bom porque o conhecimento acerca das doenças psiquiátricas ou psicológicas (do meu ponto de vista, intimamente interligadas; infelizmente ainda há alguns psiquiatras que acham que tudo é psiquiátrico e alguns psicólogos que acham que tudo é psicológico) aumentou imenso nas últimas décadas o que se reflecte na terminologia usada, nos tratamentos, no "poder curar"; embora ainda assim me digam, os especialistas, que o défice de tratamentos é mais do que muito.
-e embora ainda seja tabú, à excepção da "depressão"; o "stress" e a "depressão" tornaram-se de alguma maneira "moda" e muitas vezes incorrectamente diagnosticados.
-Infelizmente, ainda há muita ignorância no público geral/ comum (como uma vez me disse um polícia, nos "populares", onde me incluo) sobre as inúmeras doenças psiquiátricas/ psicológicas.
-Um dos problemas para ser "mau" terem "exterminado" o termo "loucura" é, por exemplo, também quererem "exterminar" as clínicas psiquiátricas, os "hospícios".
-melhorá-los seria, do meu ponto de vista, uma alternativa bem mais saudável;
-não se vê num hospital misturar doentes com doenças contagiosas, digamos pulmonares, com um paciente com cancro pulmonar; então porque se põe "tudo ao molho" num hospital psiquiátrico (nos muito poucos que ainda existem)?
-num tratamento psiquiátrico será muito importante, por exemplo, algo tão simples como a toma regular dos medicamentos (embora talvez essa seja a "tarefa" mais exequível), porém essa será porventura uma tarefa dantesca para um paciente com uma determinada patologia (devo neste ponto ou até antes ainda, devo dizer que não sou médica nem psicóloga clínica). A alteração também do paradigma familiar, do padrão familiar, de cada vez mais pessoas viverem sozinhas.
(aqui vou deixar, pelo menos por agora, muitas questões psicológicas, psiquiátricas, sociológicas que poderiam ser abordadas).
A patologia psiquiátrica (quase como o desemprego; perdoem-me os puristas a comparação) é uma doença contagiosa!! -e é quase certo que pelo menos todos os membros da família ficarão afectados, com variantes mais ou menos graves. Não digo que se devam por isso afastá-los da sociedade. é o contrário disso o que sugiro. Sugiro que se dê mais atenção a esses casos e que efectivamente se tratem. A curto prazo é fundamental um bom psiquiatra e a médio/ longo prazo um acompanhamento de um bom psicólogo. (e é escandalosa a falta de psiquiatras para um público supostamente saudável que se faz sentir...mas também o é de dentistas, de ginecologistas, e a lista continua)
Por não ser psiquiatra nem psicólogo, e esperando não estar a escrever um grande disparate, posso dar-me ao luxo (?!) de dizer que "há os loucos e os não loucos"; não quer dizer que os não loucos não sejam pacientes sem patologias psiquiátricas, bem pelo contrário. Assim, nesses é importante tratar a curto prazo, mas também entender e levá-los a entender quais as causas, quais os sintomas, como evitá-los, como evitar recaídas.
Muitas vezes gosto de dar o exemplo da diabetes. toda a gente é diabética; ninguém tem qualquer tipo de complexo de dizer "sou diabético". e um diabético é um paciente com uma doença crónica, o que implica que toda a vida vai tomar medicamentos, não para curar, mas para "viver bem" com aquela condição. Também nos diabéticos há "os loucos e os não-loucos".
Talvez seja um exemplo tolo, mas eu acho que ilustra bem o que pretendo dizer.

Tive a sorte de conhecer alguns dos melhores psiquiatras que há no nosso país. Tive o "azar" de "precisar de um psiquiatra". Infelizmente não fiz o tratamento de média/ longa duração. A "vantagem" dos loucos é que a sua condição é visivelmente vísivel; a desvantagem dos não-loucos psiquiatricamente doentes é que a sua doença
(atrevo-me a dizê-lo; porquê dizer condição?! a asma também é uma condição mas ninguém diz que não é uma doença; um cego é um cego, um surdo um surdo, uma mentira não é uma inverdade! ainda o "mau" de se ter acabado com a denominação de "louco" é que talvez não passe de mais um termo que era politicamente incorrecto e por isso pedia a sua "exterminação" assim como os loucos numa sociedade de "pessoas visivelmente perfeitas e saudáveis"; Não vos deixai iludir pelas aparências)
é "muda"! Perturba terrivelmente a própria vida...mas é silenciosa...desde que não perturbe mais ninguém...não pretendo ser cínica.
-Foram raras as pessoas a quem disse que tinha tratamento psiquiátrico. Também porque prezo a minha privacidade. Mas julgo que essa não terá sido a principal razão.

-Uma vez fui com uma amiga a um psiquiatra. A minha amiga julgava que estava a ficar "louca" e a psiquiatra perguntou mas "o que é um louco". Pergunta injusta e cruel para um paciente "naquela condição". Foi, talvez, uma das melhores psiquiatras que conheci. Infelizmente apenas operava em hospitais públicos.

-E então?, a pergunta inicial era "qual a diferença entre mim e um louco?"
-Da próxima vez que for ao psiquiatra, talvez lhe pergunte? Porque eu não sei a resposta!
Talvez seja a de Dalí. Será. Talvez eu não esteja louca.
O psiquiatra (outra mão de Deus que conheci) disse que a loucura chega sem avisar.
Por favor, se a virem digam-lhe que eu saí e não sei quando volto.

e agora alguns filmes maravilhosos sobre "a loucura"
(a Margarida odiava quando dizíamos que éramos histéricas; e nós nunca tínhamos percebido muito bem porquê. Penso que o compreendi ao ver alguns destes filmes)

1)Splendor in the Grass (1961); Elia Kazan
http://un.yhs.search.yahoo.com/avg/search?fr=yhs-avg&p=esplendor%20na%20relva

2)os filmes com James Dean (pelo menos os que vi; vi 3 (penso) o homem/actor era perturbante)

3)A Streetcar Named Desire (1951); Elia Kazan
http://www.imdb.com/title/tt0044081/

4)Awakenings, 1990; Penny Marshall
http://www.imdb.com/title/tt0099077/

5) Lilith (1964); Robert Rossen

e outros de Loucura/ para loucos/ para perturbar/ para perturbados:

6)M. Butterfly (1993)
Directed by David Cronenberg. With Jeremy Irons, John Lone, Barbara Sukowa. In 1960s China, French diplomat Rene Gallimard falls in love with an opera ...www.imdb.com/title/tt0107468/

(JL penso que "um amor obsessivo" pode ser colocado nesta "prateleira")

7) Dead Ringers (1988);David Cronenberg

8) Talvez o Cronenberg em si mesmo/ realizador esteja perfeitamente colocado nesta "prateleira"

9)The Red Shoes (1948)
(este vi há muito muito tempo e não nas melhores condições...mas ainda assim, penso que se enquadra bem aqui)

10) Dolls (2002); Takeshi Kitano

Penso que é uma boa lista!
E prova que "de loucos e poetas todos temos um pouco"; felizmente para uns e infelizmente para outros, outros têm mais que uns.

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